(…)
Arrumo a mala com carinho. Peço para a telefonista me chamar às cinco horas. Apago a luz. Deito-me sem sono. Quantas horas teria dormido até agora? Faltam cinco para as cinco. Ligo para a telefonista, antecipando-me ao chamado. Vou para o chuveiro. A água é morna e grossa. Faço a barba, ainda sonolento. Visto-me e desço.
Quando o carro começa a rodar vejo os últimos boêmios que se recolhem. Os bondes carregando gente adormecida. Da baía vem uma aragem agradável, impregnada de maresia. O chofer é um português moço e falador. Pergunta se vou para o Sul. Penso antes de responder. Adiantaria dizer alguma coisa àquele cidadão que eu iria para Rússia, para Moscou? Não.
-Vou para o Recife. Conhece?
-De passagem, doutor, de passagem.
Assim é melhor, que ele poderia me tomar por louco ou mentiroso. Alguém dizer no Rio “vou para Moscou” só poderia esperar uma resposta irônica como “pois eu vou para a China”. Mas o táxi pára defronte os escritórios da BOAC. O português ajuda a descarregar a bagagem. Recebo os cumprimentos do vereador Saldanha, que se adianta com a novidade:
-Você vai pela Inglaterra.
Pago o português, que me olha desconfiado. A mentira tem as pernas curtas.
(…)
Arrumo a mala com carinho. Peço para a telefonista me chamar às cinco horas. Apago a luz. Deito-me sem sono. Quantas horas teria dormido até agora? Faltam cinco para as cinco. Ligo para a telefonista, antecipando-me ao chamado. Vou para o chuveiro. A água é morna e grossa. Faço a barba, ainda sonolento. Visto-me e desço.
Quando o carro começa a rodar vejo os últimos boêmios que se recolhem. Os bondes carregando gente adormecida. Da baía vem uma aragem agradável, impregnada de maresia. O chofer é um português moço e falador. Pergunta se vou para o Sul. Penso antes de responder. Adiantaria dizer alguma coisa àquele cidadão que eu iria para Rússia, para Moscou? Não.
-Vou para o Recife. Conhece?
-De passagem, doutor, de passagem.
Assim é melhor, que ele poderia me tomar por louco ou mentiroso. Alguém dizer no Rio “vou para Moscou” só poderia esperar uma resposta irônica como “pois eu vou para a China”. Mas o táxi pára defronte os escritórios da BOAC. O português ajuda a descarregar a bagagem. Recebo os cumprimentos do vereador Saldanha, que se adianta com a novidade:
-Você vai pela Inglaterra.
Pago o português, que me olha desconfiado. A mentira tem as pernas curtas.
(…)
(Josué Guimarães)
Nenhum comentário:
Postar um comentário